Blog Moisés Arruda - Sobral/CE/Facebook-moiseslinharesarruda : Tasso Jereissati: "Os políticos estão viciados em politicagem"

13 de nov. de 2013

Tasso Jereissati: "Os políticos estão viciados em politicagem"

O ex-governador do Ceará critica o troca-troca dos partidos, o aparelhamento e a
corrupção – e diz que o Brasil precisa de uma nova geração de homens públicos. Depois de três anos de reclusão, o ex-governador e ex-senador cearense Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB e uma das principais lideranças nacionais do partido, decidiu romper o silêncio. Na semana passada, ele recebeu ÉPOCA no seu escritório em Fortaleza, num edifício comercial junto ao Shopping Iguatemi, de sua propriedade. O empresário de 64 anos falou sobre política e as perspectivas eleitorais de Aécio Neves. Embora tenha afirmado em 2010, depois de perder a reeleição para o Senado, que aquela seria sua última disputa, Jereissati não descartou a possibilidade de atender a um pedido de Aécio e disputar novamente uma vaga no Congresso Nacional no ano que vem. “O Eduardo Campos foi maltratado demais pelo PT e pela Dilma para compor com eles no segundo turno” 
ÉPOCA – Qual é a sua visão sobre a Marina?
Jereissati – Espero que a Marina seja candidata. Eu não sou advogado, não entendo muito de Direto, mas não consigo entender como um partido como o Pros, que ninguém sabe de onde saiu o que defende, para onde vai, o que vai fazer, consegue o registro na Justiça Eleitoral, e a Rede, da Marina, não. Até dá para entender que a Solidariedade, do Paulinho, da Força Sindical, consiga, porque ele tem a máquina dos sindicatos por trás. Mas não consigo entender como um Pros consegue e a Marina, não. A Marina representa uma parte do pensamento do país, o Partido Verde, as bandeiras ecológicas. Tem um grande apoio, até entre os religiosos. O Pros ninguém sabe o suporte social que tem. Para o bem do país, espero que ela seja candidata. É bom que haja alguém como ela, que representa uma parte importante da sociedade, na disputa.

ÉPOCA – Sobre o Eduardo Campos, o que o senhor pensa?
Jereissati - Gosto muito dele. O Eduardo é uma liderança importante, tem seu valor. Está na hora de o Nordeste ter um candidato a presidente. Está na hora de gente nova, dessa nova turma entrar na disputa.

ÉPOCA – Como está encaminhada a questão do vice do Aécio?
Jereissati – Isso ainda não está encaminhado, não. Ainda tem muito chão pela frente. Vai depender muito da situação nos próximos meses. Uma coligação é importante. O DEM é um aliado natural, já no primeiro turno. O PPS era uma aliança natural, mas parece que pode se aliar com o PSB. O Solidariedade, do Paulinho, da Força, também pode se aliar conosco.

ÉPOCA – O senhor acredita que é possível fazer uma frente de oposição no segundo turno, qualquer que seja o nome – Aécio, Marina ou Eduardo?
Jereissati – Acredito que sim. O Eduardo foi maltratado demais pelo PT e pela Dilma para haver qualquer possibilidade de compor com eles no segundo turno. De novo, tudo pode acontecer na política, mas ele tem muito mais identidade conosco. Temos muita coisa em comum. Com Eduardo é muito provável, por causa disso. Com a Marina, é bem possível. Isso se a gente não for para o segundo turno contra ela, se é que ela será mesmo candidata.

“Se você der pra o Aécio a Marina e o Eduardo a exposição de vinte dias que a Dilma teve na televisão, em circunstâncias inteiramente favoráveis a ela, qualquer um deles vai lá para cima nas pesquisas”
ÉPOCA – Nas últimas semanas, a Dilma voltou a crescer nas pesquisas. Será que, em 2014, a oposição vai morrer na praia novamente?
Jereissati – Em política, em eleições, a gente não pode dizer nada com certeza, mas, hoje, acho quase impossível que não haja segundo turno em 2014. Primeiro, porque a economia não é mais a mesma. O nível de confiança não é mais o mesmo. A popularidade da presidente na classe média não é mais a mesma. E o desgaste do governo em função da somatória de escândalos e erros é muito grande. Não acho nem um pouco estranho que ela tenha voltado a crescer nas pesquisas. Se você der a exposição de vinte dias que a Dilma teve nos últimos na televisão para o Aécio ou mesmo para a Marina e para o Eduardo, em circunstâncias inteiramente favoráveis a ela, qualquer um deles vai lá para cima. Bote o Aécio declarando guerra aos Estados Unidos na ONU e defendendo uma política chamada de Mais Médicos, com ampla campanha nacional, expondo-o mais do que todas as empresas que fazem anúncios em televisão juntas, que vai acontecer à mesma coisa. Era até para a Dilma ter subido muito mais do que isso. O Lula no auge, com a economia bom bando, foi para o segundo turno com o Alckmin. Agora, a economia está mal, o país está mal, está difícil para todo mundo, para as empresas, para a classe média, para quem vive nas grandes cidades. A economia está estagnada, a inflação, num patamar alto e temos uma presidente que, para dizer o mínimo, não tem o carisma do Lula. Então, a probabilidade de haver segundo turno – e acho que é conosco, com o PSDB – é muito grande.

ÉPOCA – Há alguns dias, o Lula disse que vai se engajar de corpo e alma na campanha. Isso não pode atrapalhar os planos da oposição?
Jereissati – Apesar de ele aparecer bem em todas as pesquisas – e é inegável que ele é muito forte e muito popular, principalmente no Nordeste –, acho que esta disputa por protagonismo do Lula faz mal à Dilma. Quanto mais ele quiser ser protagonista – e o Lula não consegue desgrudar do protagonismo totalmente – pior será para ela.

ÉPOCA – Como senhor avalia a saída dos irmãos Gomes do PSB? Qual o impacto que isso pode ter no PSB e na política local?
Jereissati – No plano nacional, não sei, mas na política local, estadual, terá muito impacto, porque é um exemplo do arrasamento dos partidos, da coroação da política de troca de partidos, de cargos, de vantagens. Cada um que se salve e o último que sair que apague a luz. A meu ver, isso consolida um cenário que se manifestou em caráter nacional, e também aqui. Ao mesmo tempo sela uma aliança da família Gomes com o PT e o governo Dilma e isola o PSDB e PMDB, que era o grande aliado do PT aqui, neste quadro aqui. Isso foi rachado no meio, porque existe um candidato derrotado ao governo do Estado e fica claro que o candidato do PMDB não vai ser o candidato do governo federal.

ÉPOCA – Como a saída dos irmãos Gomes para o Pros afeta o PSDB no Ceará?
Jereissati – Depois de ouvir o que vou dizer agora, você vai falar que eu sou o pior político que conheceu na sua vida. Nos últimos cinco dias, houve uma romaria de deputados, de candidatos a deputado, estaduais e federais, ao meu escritório, para me dizer que estão de saída do PSDB, porque foram convidados por A ou por B. Vieram me comunicar ou para ver se eu tinha possibilidade de compensar essas oportunidades, ficar dono do partido, que é o grande sonho hoje em dia. Todo mundo quer ser dono de partido, que dá direito a minutos de televisão e ao fundo partidário. Não é tão desprezível assim. A minha conclusão é que prefiro começar o partido do zero, porque na verdade eles já não são do partido, não têm nada a ver com o partido. Não estamos no poder para fazer concessões, muito menos financeiras, nem para oferecer cargos. Ninguém vai ser dono do partido também. Então é melhor começar do zero e quem sabe não aparece gente nova por aí. Por coincidência, apareceu um grupo de jovens médicos, dispostos a formar uma nova visão política e a serem candidatos.

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