Pesquisa do Ipea aponta principais queixas do brasileiro contra o SUS. Programa saúde da família é bem avaliado em 80,7% dos casos
Priscilla Borges, iG Brasília | 09/02/2011 10:30
A falta de médicos e a demora no atendimento são os problemas do SUS
(Sistema Único de Saúde) que mais incomodam o brasileiro. Os dados
acabam de ser divulgados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), com base em 2.773 entrevistas feitas em domicílios
particulares entre os dias 3 e 19 de novembro do ano passado para
avaliar a percepção dos brasileiros sobre o serviço.
Apesar das críticas, o SUS ganha aprovação do País com o Programa
Saúde da Família (PSF). Ele é bem avaliado por 80,7% da população e
considerado ruim ou muito ruim por apenas 5,4% dos entrevistados. Entre
as sugestões de melhorias apontadas pelas pessoas ouvidas na pesquisa
estão uma lista maior de medicamentos gratuitos e menos falhas de
abastecimento destes.
Pontos críticos
Os entrevistados sugeriram que poderia haver mais médicos nos
atendimentos em centros e postos de saúde. Também ajudaria se houvesse
reforço nos serviços de urgência e emergência, além das consultas com
especialistas.
Foto: Fellipe Bryan Sampaio
Maria da Conceição Alves Ribeirosus
Com o reforço no número de médicos, o segundo alvo de reclamações, a
demora no atendimento, provavelmente apresentaria melhorias. Hoje, os
centros e postos de saúde deveriam diminuir o tempo entre marcação e
realização da consulta para 15,5% dos entrevistados. A sugestão é ainda
mais prevalente (34%) quando se trata da consulta com especialistas.
Maria da Conceição Alves Ribeiro, 35 anos, tenta fazer uma cirurgia
para retirada de um nódulo na tireóide há mais de três anos. Mas não
consegue marcar exames e consultas básicas para a cirurgia. Nesta
quarta-feira, ela pegou o primeiro ônibus em Águas Lindas, cidade no
entorno de Brasília, às 5h. Antes das 6h, já estava no Hospital de Base
de Brasília, o maior público da cidade. Mas não conseguiu pegar uma das
30 fichas distribuídas para a marcação de consultas.
A atendente se sente frustrada e preocupada. “Faltam médicos, faltam
atendentes. A demanda é muito grande e não existem profissionais
suficientes. Tudo o que a gente vai marcar é muito difícil, demora até
quatro meses para conseguir uma consulta”, lamenta. Ela conta que tem
dificuldades até para levar o filho ao pediatra, em processos de rotina.
“Em Águas Lindas, então, não tem nada”, diz.
A pesquisa investigou também por que alguns entrevistados têm ou já
tiveram plano de saúde. Foi constatado que a maioria deles recorreu à
saúde suplementar pela rapidez no atendimento para consultas e exames
(40%) e boa parte (29,2%) aproveitou o fato do empregador fornecer o
benefício gratuitamente. A liberdade de escolha do médico (16,9%) também
foi citada como uma razão para adquirir um plano de saúde.
Mas o segmento apresenta problemas significativos. O principal é o
preço da mensalidade, apontado por 39,8% dos entrevistados. Além disso,
as restrições para cobertura de doenças e procedimentos também incomoda
35,7% da população.
Processo complicado
O estudo aponta centros e postos de saúde como os primeiros locais em
que a população busca atendimento. Depois de esperar pela consulta, o
encaminhamento ao especialista aparece como outro ponto de desgaste.
“Em geral, (os entrevistados) não saem dali com a consulta marcada,
mas com um encaminhamento para realizar essa marcação. Novamente, outra
espera. Uma resposta possível: faltam médicos”, informa o material da
pesquisa.
Foto: Fellipe Bryan Sampaio
Alberto Fernando Marques dos Santos
As dificuldades para atendimento no SUS nos grandes centros se
multiplicam nas cidades menores. Na Cidade Ocidental, localizada em
Goiás, no entorno da capital federal, Alberto Fernando Marques dos
Santos, 30 anos, não consegue fazer consultas de rotina, exames ou ser
atendido em caso de emergência. “Tem hospital e posto de saúde. Mas não
tem médico para atender. As filas são enormes”, diz.
Por isso, sempre que precisa, se locomove 48 quilômetros até Brasília
para tentar atendimento. O que não evita, porém, a frustração. “Tem de
ter paciência. Na sexta, trouxe minha avó para fazer um raio-x. Não
conseguimos. Chegamos hoje às 6h30. Até as 9h, ela ainda esperava”,
conta. Alberto define a situação como descaso. “Pagamos impostos, mas
não temos acesso a serviços básicos”, protesta.
Saúde da família
As avaliações mais positivas do SUS aparecem nos atendimentos
realizados pelo programa saúde da família (PSF). Se consideradas apenas
as famílias visitadas pelo PSF, o índice de aprovação chega a 80,7%.
Apenas 5,7% dos entrevistados consideram o atendimento ruim ou muito
ruim. Alberto, por exemplo, não consegue avaliar o serviço. “Nunca foi
atendido pelo programa”, lamenta.
Em segundo lugar aparece a distribuição de medicamentos gratuitos,
considerada muito boa ou boa por 69,6% da população. O serviço é
reprovado por 11% dos entrevistados. Em seguida aparece o atendimento
com médicos especializados, bem-visto por 60,6% do País.
Foto: Fellipe Bryan Sampaio
Movimentação no Hospital de Base de Brasília na manhã desta quarta-feira
O mais alto índice negativo marca os atendimentos de urgência e emergência, com 31,4% de avaliações ruins ou muito ruins.
A avaliação dos serviços do SUS é muito semelhante em todo o País,
exceto pela região Norte, onde os percentuais aparecem de cinco a dez
pontos mais baixos. Isso vale inclusive para os atendimentos do PSF, que
são bem-vistos por 71,2% dos entrevistados no Norte. Nela, o menor
índice de aprovação aparece nos atendimentos de urgência e emergência,
com 38,1%, enquanto o índice chega a 48,4% no Sudeste.
Na avaliação geral do estudo, a percepção do SUS é mais positiva
entre aqueles que utilizaram os serviços nos últimos 12 meses. Neste
grupo, o atendimento do SUS é bom ou muito bom para 30,4% e ruim ou
muito ruim para 27,6%. Entre aqueles que não utilizaram o SUS no último
ano, apenas 19,2% consideram os serviços bons ou muito bons, e 34,3%
consideram ruins ou muito ruins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário