Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil Edição: Graça Adjuto
O projeto de urbanizar o local conhecido como Curva do S, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio, para transformá-lo oficialmente em um ponto de oferenda religiosa será retomado pela Secretaria de Estado do Ambiente. O anúncio foi feito pelo secretário Carlos Portinho, empossado recentemente, depois de o projeto ter sido paralisado com a troca de comando na pasta, ocorrida em fevereiro, quando assumiu Índio da Costa. O local, ao lado da Avenida Edson Passos, no Alto da Boa Vista, já é um ponto tradicional de oferenda de religiões de matriz africana.
O deputado estadual Carlos Minc, ex-secretário do Ambiente, explica que o projeto do Espaço Sagrado da Curva do S é fruto de oito anos de conversas com representantes das religiões afro-brasileiras, que levaram à criação do Decálogo das Oferendas, texto voltado para a educação ambiental e religiosa, tendo em vista o risco ambiental que oferendas podem causar, devido ao uso de elementos como velas, carcaças de animais, garrafas de vidro e potes de barro. De acordo com ele, o projeto foi paralisado por questões políticas.
“Três dias depois de tomar posse, o secretário Índio me disse que iria acabar com o projeto porque foi pedido por dois deputados evangélicos, que disseram que seria absurdo que dinheiro público financiasse um 'macumbódromo, ficou estigmatizado. Expliquei o que era e pedi que fosse reconsiderado, a gente quer a paz e não podemos travar uma guerra religiosa dentro da Secretaria de Ambiente”.
Portinho nega que tenha havido polêmica religiosa no processo e lembra que havia dúvida quanto à ligação do projeto com a questão ambiental, que foi esclarecida após uma reunião com representantes do grupo de combate à intolerância religiosa.
“Quando assumimos, procuramos entender onde isso se encaixava em uma questão ambiental, porque tendo um viés ambiental, é de nosso total interesse avaliar e seguir à frente com o projeto. Nessa reunião, foi muito esclarecedor, porque foi explicado que as oferendas muitas vezes colocavam em risco a vegetação da mata, com a possibilidade de queimada”.
De acordo com o secretário, o projeto está em fase de elaboração do desenho arquitetônico, a cargo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que deve ser entregue até o fim do mês. Para o coordenador da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos, o Espaço Sagrado da Curva do S pode ter um impacto em todo o país e servir de modelo de respeito às religiões que têm a natureza como sagrada, não só as de matriz africana.
“É muita má vontade dizer que é 'macumbódromo', até ignorância, porque macumba não é religião, é um instrumento. Segundo, isso é um preconceito, uma discriminação e um estigma que colocaram em nossa religião. A única diferença que temos das outras religiões é que fazemos o que está nos primórdios, no livro antigo dos hebreus: fazemos oferenda. Essa é a primeira relação do homem com o sagrado”.
A questão foi debatida em uma audiência pública na Comissão de Combate às Discriminações e aos Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj).
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