Diretrizes do programa de governo
trazem temas ignorados em 2010 para evitar conflitos com ex-ministra, que é
evangélica
25 de março de 2014 | 2h 08
João Domingos - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Quatro anos depois de ter como candidata ao Planalto, a
ex-ministra Marina Silva, o PV se prepara para levar à campanha presidencial
temas polêmicos como liberar o aborto além das situações permitidas pela atual
legislação e descriminalização do consumo de maconha. Os dois assuntos foram
descartados em 2010 em função da religião da então candidata - Marina é
evangélica.
Esses
temas fazem parte dos dez pontos programáticos lançados ontem para discussão
interna pelo pré-candidato do PV, o ex-deputado Eduardo Jorge. Na campanha
passada, o partido não só passou longe desses temas como Marina se colocou
publicamente contrária tanto à descriminalização do aborto como à da maconha.
Naquele ano, a ex-ministra obteve quase 20 milhões de votos e ficou em terceiro
lugar na disputa contra a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra.
"Não
vamos fazer campanha olhando para 2010", disse Eduardo Jorge.
"Questões de orientação sexual, reforma política, reforma tributária e
relações com a agricultura não foram bem defendidas em 2010."
Ao
contrário de quatro anos atrás, o PV não utilizará no programa de governo a
"cláusula de consciência", dispositivo incluído no documento de 2010
como solução para abrigar a candidatura de Marina, que se desfiliou em 2011.
Isso porque, segundo integrantes do partido, a defesa do aborto e da maconha
sempre foi uma bandeira da legenda, mas isso acabou sendo "temporariamente"
revisto para a ex-ministra evangélica se candidatar pela sigla.
"Essas
questões são responsáveis pelo sofrimento de milhares e milhares de famílias.
Vamos dar a elas uma opção, a forma de melhor apoiar os brasileiros que se
defrontam com esses problemas", explicou Eduardo Jorge. O ex-deputado
reconhece que, entre os eleitores que votaram na candidata do PV em 2010, havia
conservadores que foram atraídos pelas convicções pessoais e religiosas de
Marina. Afastar o PV desse eleitorado, garantiu o pré-candidato, não é
problema, mas solução.
"Ali
estavam os descontentes com o PT, o PSDB, a administração Lula/Dilma,
ecologistas, religiosos, evangélicos e mesmo conservadores atraídos pela
candidata", disse Eduardo Jorge. "Não nos interessa se vamos perder
ou ganhar votos ao abordar questões tão importantes (como aborto e maconha).
Não vamos fugir delas."
Alternativa. Com o debate sobre aborto e uso de maconha, o PV acredita que
será a "novidade da eleição", como definiu Eduardo Jorge. O
ex-deputado acredita que, assim, o PV poderá ser o contraponto às propostas das
principais candidaturas presidenciais - além de Dilma, as do senador tucano
Aécio Neves (MG) e a do governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB).
"O
PV é uma corrente política que encarna novidades como a cultura de paz e o
desenvolvimento sustentável", explicou o pré-candidato. "Faz críticas
tanto ao capitalismo quanto ao socialismo. Ambos, desprezando os limites
ambientais, colocaram a humanidade no século 21 diante de uma crise econômica,
social e ambiental sem precedentes."
Está
será a quarta vez que o PV terá candidato próprio a presidente. O melhor
resultado foi obtido em 2010, com Marina. A estreia, em 1989, foi com o
jornalista e hoje ex-deputado Fernando Gabeira, que obteve 0,17% dos votos na
eleição vencida por Fernando Collor. Em 1998, quando Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) venceu a reeleição no primeiro turno, o PV lançou o deputado Alfredo
Sirkis - aliado de Marina que foi com ela para o PSB - e ficou 0,31% dos votos.
Fonte Estadão
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