O ex-governador do Ceará critica
o troca-troca dos partidos, o aparelhamento e a
corrupção – e diz que o Brasil
precisa de uma nova geração de homens públicos. Depois de três anos de
reclusão, o ex-governador e ex-senador cearense Tasso Jereissati, ex-presidente
do PSDB e uma das principais lideranças
nacionais do partido, decidiu romper o silêncio. Na semana passada, ele recebeu
ÉPOCA no seu escritório em Fortaleza, num edifício comercial junto ao
Shopping Iguatemi, de sua propriedade. O empresário de 64 anos falou sobre
política e as perspectivas eleitorais de Aécio Neves.
Embora tenha afirmado em 2010, depois de perder a reeleição para o Senado, que
aquela seria sua última disputa, Jereissati não descartou a possibilidade de
atender a um pedido de Aécio e disputar novamente uma vaga no Congresso
Nacional no ano que vem. “O Eduardo Campos foi maltratado demais pelo PT e pela Dilma para compor com
eles no segundo turno”
ÉPOCA – Qual é a sua visão sobre a Marina?
Jereissati – Espero
que a Marina seja candidata. Eu não sou advogado, não entendo muito de Direto,
mas não consigo entender como um partido como o Pros, que ninguém sabe de onde
saiu o que defende, para onde vai, o que vai fazer, consegue o registro na
Justiça Eleitoral, e a Rede, da Marina, não. Até dá para entender que a
Solidariedade, do Paulinho, da Força Sindical, consiga, porque ele tem a
máquina dos sindicatos por trás. Mas não consigo entender como um Pros consegue
e a Marina, não. A Marina representa uma parte do pensamento do país, o Partido
Verde, as bandeiras ecológicas. Tem um grande apoio, até entre os religiosos. O
Pros ninguém sabe o suporte social que tem. Para o bem do país, espero que ela
seja candidata. É bom que haja alguém como ela, que representa uma parte
importante da sociedade, na disputa.
ÉPOCA – Sobre o Eduardo Campos, o que o senhor
pensa?
Jereissati - Gosto
muito dele. O Eduardo é uma liderança importante, tem seu valor. Está na hora
de o Nordeste ter um candidato a presidente. Está na hora de gente nova, dessa
nova turma entrar na disputa.
ÉPOCA – Como está encaminhada a questão do vice do
Aécio?
Jereissati – Isso
ainda não está encaminhado, não. Ainda tem muito chão pela frente. Vai depender
muito da situação nos próximos meses. Uma coligação é importante. O DEM é um aliado
natural, já no primeiro turno. O PPS era uma aliança natural, mas parece que
pode se aliar com o PSB. O Solidariedade, do Paulinho, da Força, também pode se
aliar conosco.
ÉPOCA – O senhor acredita que é possível fazer uma
frente de oposição no segundo turno, qualquer que seja o nome – Aécio, Marina
ou Eduardo?
Jereissati – Acredito
que sim. O Eduardo foi maltratado demais pelo PT e pela Dilma para haver
qualquer possibilidade de compor com eles no segundo turno. De novo, tudo pode
acontecer na política, mas ele tem muito mais identidade conosco. Temos muita
coisa em comum. Com Eduardo é muito provável, por causa disso. Com a Marina, é
bem possível. Isso se a gente não for para o segundo turno contra ela, se é que
ela será mesmo candidata.
“Se
você der pra o Aécio a Marina e o Eduardo a exposição de vinte dias que a Dilma
teve na televisão, em circunstâncias inteiramente favoráveis a ela, qualquer um
deles vai lá para cima nas pesquisas”
ÉPOCA – Nas últimas semanas, a Dilma voltou a
crescer nas pesquisas. Será que, em 2014, a oposição vai morrer na praia
novamente?
Jereissati – Em
política, em eleições, a gente não pode dizer nada com certeza, mas, hoje, acho
quase impossível que não haja segundo turno em 2014. Primeiro, porque a
economia não é mais a mesma. O nível de confiança não é mais o mesmo. A
popularidade da presidente na classe média não é mais a mesma. E o desgaste do
governo em função da somatória de escândalos e erros é muito grande. Não acho
nem um pouco estranho que ela tenha voltado a crescer nas pesquisas. Se você
der a exposição de vinte dias que a Dilma teve nos últimos na televisão para o
Aécio ou mesmo para a Marina e para o Eduardo, em circunstâncias inteiramente
favoráveis a ela, qualquer um deles vai lá para cima. Bote o Aécio declarando
guerra aos Estados Unidos na ONU e defendendo uma política chamada de Mais
Médicos, com ampla campanha nacional, expondo-o mais do que todas as empresas
que fazem anúncios em televisão juntas, que vai acontecer à mesma coisa. Era
até para a Dilma ter subido muito mais do que isso. O Lula no auge, com a
economia bom bando, foi para o segundo turno com o Alckmin. Agora, a economia
está mal, o país está mal, está difícil para todo mundo, para as empresas, para
a classe média, para quem vive nas grandes cidades. A economia está estagnada,
a inflação, num patamar alto e temos uma presidente que, para dizer o mínimo,
não tem o carisma do Lula. Então, a probabilidade de haver segundo turno – e
acho que é conosco, com o PSDB – é muito grande.
ÉPOCA – Há alguns dias, o Lula disse que vai se
engajar de corpo e alma na campanha. Isso não pode atrapalhar os planos da
oposição?
Jereissati – Apesar
de ele aparecer bem em todas as pesquisas – e é inegável que ele é muito forte
e muito popular, principalmente no Nordeste –, acho que esta disputa por
protagonismo do Lula faz mal à Dilma. Quanto mais ele quiser ser protagonista –
e o Lula não consegue desgrudar do protagonismo totalmente – pior será para
ela.
ÉPOCA – Como senhor avalia a saída dos irmãos Gomes
do PSB? Qual o impacto que isso pode ter no PSB e na política local?
Jereissati – No plano
nacional, não sei, mas na política local, estadual, terá muito impacto, porque
é um exemplo do arrasamento dos partidos, da coroação da política de troca de
partidos, de cargos, de vantagens. Cada um que se salve e o último que sair que
apague a luz. A meu ver, isso consolida um cenário que se manifestou em caráter
nacional, e também aqui. Ao mesmo tempo sela uma aliança da família Gomes com o
PT e o governo Dilma e isola o PSDB e PMDB, que era o grande aliado do PT aqui,
neste quadro aqui. Isso foi rachado no meio, porque existe um candidato
derrotado ao governo do Estado e fica claro que o candidato do PMDB não vai ser
o candidato do governo federal.
ÉPOCA – Como a saída dos irmãos Gomes para o Pros
afeta o PSDB no Ceará?
Jereissati – Depois
de ouvir o que vou dizer agora, você vai falar que eu sou o pior político que
conheceu na sua vida. Nos últimos cinco dias, houve uma romaria de deputados,
de candidatos a deputado, estaduais e federais, ao meu escritório, para me
dizer que estão de saída do PSDB, porque foram convidados por A ou por B.
Vieram me comunicar ou para ver se eu tinha possibilidade de compensar essas
oportunidades, ficar dono do partido, que é o grande sonho hoje em dia. Todo
mundo quer ser dono de partido, que dá direito a minutos de televisão e ao
fundo partidário. Não é tão desprezível assim. A minha conclusão é que prefiro
começar o partido do zero, porque na verdade eles já não são do partido, não
têm nada a ver com o partido. Não estamos no poder para fazer concessões, muito
menos financeiras, nem para oferecer cargos. Ninguém vai ser dono do partido
também. Então é melhor começar do zero e quem sabe não aparece gente nova por
aí. Por coincidência, apareceu um grupo de jovens médicos, dispostos a formar
uma nova visão política e a serem candidatos.
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