Governantes de grandes países emergentes embarcam para a reunião das 20 maiores economias do mundo com pautas distintas. Há poucos meses, o foco dos Brics era coeso e a prioridade era cobrar uma política monetária coordenada nos Estados Unidos. Agora, os problemas internos parecem falar mais alto. A China cresce menos. Brasil e Rússia acumulam problemas, beiram a recessão e elevam juro para conter preços. Na África do Sul, o grande déficit externo está longe de uma solução. A Índia pode respirar mais aliviada e, com governo novo, é o único país do grupo em tendência de aceleração.
Em paralelo à reunião de líderes do G-20 em Brisbane, os cinco maiores emergentes se reunirão sem uma grande pauta conjunta. Entre os itens importantes estão temas já conhecidos e que só precisam de detalhes e execução, como o banco de desenvolvimento e o fundo comum de reservas. A reunião do grupo parece em segundo plano.
No briefing para a imprensa do governo da Índia sobre o G-20, Brics e o trabalho conjunto com os demais emergentes sequer foram citados. No caso brasileiro, o tema mereceu menção de poucos segundos. Isso é sintoma do agravamento de problemas internos ou dores de cabeça que surgiram recentemente.
Em recessão técnica, o Brasil enfrenta desafios econômicos relevantes: conter a inflação, melhorar as contas públicas, reconquistar a credibilidade entre investidores e aumentar investimentos para acelerar a economia. Logo após o turbilhão gerado pelas eleições presidenciais, o Banco Central iniciou um novo ciclo de aumento do juro para conter preços, que devem fechar o ano bem perto do teto da meta. O aperto monetário vai tornar a retomada do crescimento econômico ainda mais difícil.
A Rússia é o membro dos Brics que mais sofreu nos últimos meses. Antes mesmo da crise geopolítica e do embargo imposto pelas grandes economias em reação ao conflito na Ucrânia, Moscou já sofria com a desaceleração da atividade. A crise na Crimeia e os conflitos subsequentes só acentuaram o processo que deve derrubar o crescimento do país para perto de zero em 2014 e 2015.
A China também sofreu piora das perspectivas. Há poucos anos, o país avançava com velocidade de dois dígitos. Agora, muitos analistas se preparam para crescimento abaixo da meta de 7,5% e projeções na casa de 6% começam a ser ouvidas. A desaceleração é encarada com suposta naturalidade até pelo governo. Outro problema é a saúde dos bancos. Após a recente expansão do crédito, há temor problemas no sistema financeiro paralelo.
Em maio, a Índia elegeu o reformista Narendra Modi como primeiro-ministro. Com uma agenda voltada à modernização da economia, o novo governo conseguiu propagar um clima de confiança entre investidores e empresários. A ascensão social parece continuar vigorosa e 55 milhões de contas bancárias foram abertas por famílias de baixa renda desde agosto. Por tudo isso, a Índia é o único dos Brics cujo crescimento acelerará ininterruptamente de 2012 a 2018, segundo o Fundo Monetário Internacional. Em 2018, inclusive, a Índia crescerá mais que a China: alta de 6,7% para Nova Délhi contra 6,4% para Pequim, prevê o FMI.
Integrante mais novo e menor economia do grupo, a África do Sul não conseguiu avançar muito na principal vulnerabilidade do país: as contas externas. Estimativa do FMI aponta para déficit em transações correntes equivalente a 5,7% do PIB para este ano. É o pior resultado entre os Brics e mostra apenas pequena melhora em relação ao déficit de 5,8% do ano passado. A queda dos preços das commodities não ajuda o país, que precisa do capital externo para financiar o rombo. Além disso, a África do Sul tem sofrido com dificuldades conjunturais como a inadimplência crescente entre a nova classe média.(Fernando Nakagawa/AE)
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