MARCUS PESTANA
A opinião pública brasileira assiste indignada aos desdobramentos do maior escândalo da história. Ver a maior empresa brasileira mergulhada no pântano da corrupção, as ações despencarem e a credibilidade da economia ser abalada mexe com os brios da sociedade e coloca em xeque a eficácia da democracia.
Isso tudo é fruto de uma visão distorcida que se instalou na cúpula do PT, partido que nasceu em nome da ética e do trabalhador, de que “os fins justificam os meios”, ou seja, tudo é válido em nome da sustentação de um suposto projeto de transformação da sociedade.
Mas sabemos que os meios são indissociáveis dos fins. Os resultados não podem ser alcançados a qualquer preço. O PT no poder assumiu um pragmatismo amoral diante das armadilhas da governabilidade apresentadas pelo nosso débil sistema político. O presidencialismo de cooptação chegou a sua expressão máxima na obtenção da maioria parlamentar com base no “é dando que se recebe”, comprometendo a qualidade da gestão nos ministérios, nas estatais e agências reguladoras. Quando a misteriosa Rose tem o poder de indicar diretores de agências essenciais para o desenvolvimento, é porque as coisas vão muito mal.
O escândalo da Petrobras faz o mensalão parecer uma história da carochinha, uma brincadeira de escoteiros e normalistas. Um mero gerente da empresa se dispor a devolver cerca de US$ 100 milhões revela a dimensão do problema. Outra gerente denunciar à direção superior que graves problemas ocorriam mostra leniência e quase conivência com os malfeitos. A Petrobras lida com cifras estratosféricas, muitos zeros, e as “tenebrosas transações” ocorriam aqui, nos Estados Unidos e na África. É ultrajante para o Brasil ser objeto de investigações nos EUA e na Holanda e de processos de acionistas minoritários internacionais.
Permitam-me algumas digressões teóricas. Fala Max Weber: “Se fizermos qualquer concessão ao princípio de que os fins justificam os meios, não será possível aproximar uma ética dos fins últimos (de convicções) e uma ética da responsabilidade, ou decretar que fim deve justificar os meios”.
Como diz FHC, Weber tinha desprezo pelo político que dá de ombros para as consequências de seus atos, jogando a culpa na mesquinhez dos outros ou do mundo. Novamente Weber: “A política é como perfuração lenta de tábuas duras… Certamente, toda experiência histórica confirma a verdade, que o homem não teria alcançado o possível se repetidas vezes não tivesse tentado o impossível”. Mas não a qualquer custo. Não com o sacrifício dos princípios fundamentais.
Noberto Bobbio qualifica Maquiavel: a licença moral dada era para realizar “grandes feitos”, “grandes coisas”. E não para destruir a autoestima nacional e a maior empresa brasileira.
Muitos assaltaram bancos, sequestraram embaixadores e cometeram crimes em nome de uma suposta boa causa. Financiar um projeto político pela corrupção certamente não é uma boa causa.
Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo
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