Blog Moisés Arruda - Sobral/CE/Facebook-moiseslinharesarruda : O caso Dom Aldo e as lições da imprensa

8 de jul. de 2016

O caso Dom Aldo e as lições da imprensa

Com o título “O caso Dom Aldo e as lições da imprensa”, eis boa reflexão sobre o papel da imprensa brasileira que o jornalista e sociólogo Demétrio Andrade faz neste instigante artigo. Confira:
A imprensa brasileira, vem, há alguns anos, sendo abastecida por um sem número de manchetes bombásticas. Mensalão, manifestações de rua, Petrolão, Lava-Jato: a lista é imensa. Mas a profusão não para. O Vaticano anunciou, dia 6 de junho, que o papa Francisco aceitou a renúncia do arcebispo da Paraíba, após uma investigação da Santa Sé sobre um escândalo de pedofilia. Dom Aldo Di Cillo Pagoto, bem conhecido dos cearenses por ter sido bispo de Sobral, estava à frente da Igreja Católica na região de João Pessoa há 12 anos.
A imprensa italiana afirmou que o religioso ítalo-brasileiro de 66 anos é suspeito de ter abrigado em sua diocese padres e seminaristas acusados de abusar sexualmente de menores e expulsos por outros bispos. Ele também manteria uma relação com um rapaz de 18 anos. Em sua carta de renúncia, Dom Aldo afirma que cometeu erros “por confiar demais, numa ingênua misericórdia”. “Acolhi padres e seminaristas, no intuito de lhes oferecer novas chances na vida. Entre outros, alguns egressos, posteriormente suspeitos de cometer graves defecções, contrárias à idoneidade exigida no sagrado ministério”, prossegue.
Evidentemente, tal notícia é um choque para a comunidade cearense, notadamente a católica. Ganha maior repercussão ainda pelo fato de Dom Aldo ter sido voz ativa – na Igreja, na política e na sociedade de forma geral –, sempre com opiniões firmes, por vezes polêmicas. A boa nova é a cruzada operada pelo papa Francisco pelo afastamento de padres culpados por negligência envolvendo casos de pedofilia dentro da Igreja. Filmes como o recém oscarizado “Spotlight” e outros, como excelente “Dúvida”, por exemplo, ajudaram a trazer este debate delicado à tona.
Sem entrar no mérito da denúncia, chamou-me a atenção algumas características da cobertura da imprensa, bem como as reações das pessoas na mídias sociais. Sobre as notícias, novamente, assim como em todos os demais casos citados no início deste texto, vejo os veículos reverberarem conteúdos de assessoria de comunicação. A imprensa, de uma forma geral, virou reprodutora das investigações alheias, abdicando de criar e se responsabilizar por suas próprias pesquisas. Quem assistir “Spotlight” vai ver amplo e minucioso trabalho de uma equipe de repórteres, cena cada vez mais rara por aqui.
Sobre a repercussão na internet, acompanhei o mesmo destempero nos julgamentos, coisa comum quando a pauta é política, com a velha dicotomia do “contra” e “a favor” funcionando novamente. Com uma grave diferença: vi defensores da imagem de Dom Aldo pedindo cautela e cuidado, solicitando “ouvir o outro lado”, requisitando paciência para saber do desenrolar das investigações. Acho isso ótimo. Muitas destas pessoas, anteriormente, não hesitaram em destruir reputações de investigados, principalmente políticos, julgando precipitadamente, se informando mal ou repassando boatos. Quem sabe agora, por força do interesse religioso, consigam demonstrar o mesmo respeito pelo outro, independentemente do credo, cor, opção política ou classe social. fonte Eliomar Lima
*Demétrio Andrade,
Jornalista e sociólogo

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