Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo
– Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), inédito na
literatura médica internacional, mostra que os usuários de crack ficam
mais tempo presos do que em tratamento contra a droga. A pesquisa, que
acompanhou, por 12 anos, 107 dependentes, indica que, nesse período, em
média, os usuários ficaram presos por um ano e oito meses, e
permaneceram em tratamento, em média, por três meses.
“Os usuários
passaram mais tempo presos do que em tratamento, o que nos faz
questionar a política repressiva voltada para os usuários da droga,
quando a questão deveria ser tratada como um problema de saúde pública”,
afirma a pesquisadora da Unifesp, Andréa Costa Dias, coordenadora e
responsável pelo estudo.
A pesquisa verificou que, após 12 anos,
29% dos usuários estudados estavam abstinentes, sem usar a droga há
cinco anos ou mais; 20% relataram períodos de consumo alternados com
períodos de abstinência; e 13% mantiveram o consumo de crack por mais de uma década, com uso mais controlado e em menores quantidades e frequência.
Dos
107 pacientes acompanhados, após o período de análise, dois estavam
desaparecidos, 13 estavam presos no período da entrevista e 27 tinham
morrido, sendo que 59% das mortes foram homicídios. Apesar do alto
índice de violência relacionado ao uso da droga, o estudo detectou que
os dependentes têm conseguido, com o tempo, evitar situações de risco.
“É claro que existe todo um contexto de risco e violência em torno do crack,
mas foi o usuário que foi aprendendo, aos poucos, a se adaptar a esse
contexto, a não se colocar tanto em risco, seja em risco de overdose
como em risco de se envolver em situações de violência, como brigas
entre companheiros de consumo ou conflito com a polícia ou mesmo
contraindo dívida de droga”, explica a pesquisadora.
Dos pacientes
acompanhados, 88,5% eram homens e 11,5% mulheres. Dentre eles, 63,3%
tinham idade entre 15 e 24 anos. Os solteiros integravam a maioria (67%)
da amostra e 27% deles eram casados.
A pesquisa mostra ainda que há fatores comuns que fizeram com que dependentes conseguissem se afastar do consumo do crack.
A procura por tratamento, a religião e a inserção no mercado de
trabalho ajudaram, de modo geral, os usuários a se distanciarem da
droga.
“Foram importantes também 'pontos de virada', como entrar
em uma faculdade, a gravidez, encontrar uma namorada ou se casar, enfim,
situações que, para aquela pessoa, foram significativas o suficiente
para que ela, então, conseguisse ir se desprendendo do consumo”, explica
Andréa Costa.
Edição: Lana Cristina
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